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A engenhoca seria capaz de obter até 40 litros de água limpa e potável por hora, mesmo em ambientes áridos
Getty Images
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Em um cenário contemporâneo marcado por aquecimento global e sucessivas crises hídricas, muitos são os cientistas que buscam alternativas para a obtenção de água potável. E todos são unânimes em um ponto de vista: as soluções, neste quesito, jamais são concorrentes; elas se somam e precisam ser adotadas dentro de parâmetros de consciência ambiental e uso sustentável dos recursos do planeta.
Uma novidade neste campo é a proposta apresentada nesta terça-feira (21) pelo engenheiro mecânico Shing-Chung Josh Wong, professor da Universidade de Akron, nos Estados Unidos. Em um evento promovido pela American Chemical Society, ele demonstrou a viabilidade de uma engenhoca que promete servir para “coletar” partículas de água da atmosfera. Em forma de uma mochila, seria capaz de obter até 40 litros de água limpa e potável por hora, mesmo em ambientes áridos.
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“O nosso mecanismo simplesmente miniaturiza o mecanismo natural, já que partículas atmosférica de água no ar são a maior fonte de abastecimento de água fresca no planeta”, explicou o cientista à BBC News Brasil. “Graças à nanotecnologia, fornecemos uma grande área superficial por unidade de volume, coletando a água eficientemente da atmosfera com o mínimo de energia, sob diferenciais de pressão e temperatura.”
O modelo desenvolvido pela equipe de Wong, que ainda não saiu do papel, é semelhante a uma mochila. De acordo com o cientista, a inspiração veio de um curioso inseto, o besouro-da-namíbia. O bicho, que habita o hiperárido deserto do país africano que lhe empresta o nome, retira toda a água de que necessita para viver graças a um sistema de absorção de partículas do ar em sua carapaça.
“Tive a ideia quando estava visitando a China, que tem um problema de escassez de água doce. Há investimento em tratamento de águas residuais, mas pensei que era preciso somar esforços em outras frentes”, contou o cientista.
Técnica
Coletar a água do ar não é uma novidade. Milhares de anos atrás, o princípio já era utilizado pelos incas, que coletavam o orvalho das madrugadas nos Andes e o canalizavam para cisternas. Mecanismos semelhantes já eram adotados há pelo menos 2 mil anos em desertos do Oriente Médio.
Hoje em dia, com tecnologia de ponta, há equipamentos que aproveitam a neblina da manhã sobretudo em regiões secas nos Andes e na África.
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O avanço do mecanismo proposto por Wong é justamente o que permite eficiência em um equipamento relativamente pequeno: a tecnologia do material. “Usar a nanotecnologia para ‘colher’ água da atmosfera é algo que ainda está na infância”, disse. “Meu objetivo é estimular interesses nesse campo, de modo que a sociedade possa investir mais recursos nessa direção de energia renovável, em vez de usar apenas a tradicional dessalinização ou o tratamento de água de esgoto, cujos trabalhos já foram maximizados.”
Universidade de Akron/ Divulgação
O pesquisador acredita que, no futuro, um programa semelhante poderia ser uma “solução viável” para locais afetados pela seca, como o Estado americano da Califórnia, a região noroeste da China, diversas regiões africanas, partes da Austrália e do Brasil.
“Acredito que governos ou companhias possam criar algum programa para financiar tal mecanismo”, disse Wong, que está em busca de financiamento para transformar o protótipo em um produto consolidado.
O cientista não crava o valor que o produto custaria, mas acredita que a mochila coletadora, em escala, possa ser produzida a custo acessível.
Nanotecnologia
O material utilizado por Wong e sua equipe foram os polímeros obtidos a partir de eletroforese. O resultado são fibras que variam de poucas dezenas de nanômetros até um micrometro, ou seja, com entrelaçamento microscópico. Tais polímeros oferecem uma relação superfície-volume incrivelmente alta, muito maior do que as fornecidas pelos destiladores de água que existem no mercado.
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Essa mochila coletadora de água, de acordo com os cientistas, funcionaria até em ambientes desérticos – justamente por conta da eficiência desse material, que ainda por cima atrai partículas de água. O consumo de energia também seria baixo. “Com os recentes avanços nas baterias de íons de lítio, penso em um dispositivo menor, do tamanho de uma mochila”, comentou.
Universidade de Akron/ Divulgação
As nanofibras absorvem a água do ar e a filtram. Para otimizar o fluxo do ar e, assim, tornar a captação mais eficiente, o projeto precia ser alimentado por uma bateria.
O consumo de energia seria baixo, faria uso de “recentes avanços nas baterias de íons de lítio”.
Graças aos poros microscópicos, até micróbios são filtrados. O mecanismo obteria, portanto, uma água limpa e livre de poluentes. “E imediatamente potável”, garantiu o cientista.
“É a primeira vez que uma coletadora portátil de água será projetada e fabricada por membranas de polímero de eletroforese, com uma abordagem bioinspirada”, resumiu.
Escassez de água
Wong aproveita sua pesquisa para fazer um alerta sobre o problema mundial da escassez de água. Conforme ele ressalta em seu estudo, de toda a água disponível no planeta, apenas 2,5% é doce. E três quartos desse total está em forma de gelo, nos polos Norte e Sul.
Sabesp
“A maior parte dos esforços de pesquisa sobre sustentabilidade da água são direcionados para o abastecimento, a purificação, o tratamento de águas residuais e a dessalinização”, enumerou, no estudo. “Pouca atenção ainda é dada para os mecanismos de captação de água a partir de partículas atmosféricas.”
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fontes: Urandir News & Record Tecnologia www.r7.com